A Ilha Grande foi originalmente território dos índios tupinambás. Desde então muitos povos passaram por aqui – colonizadores portugueses, piratas ingleses, franceses guerreando por terras. Mais tarde, nomes de famílias e a toponímia de uma das ilhas da baia (Ilha de Jorge Grego) nos dão pistas da presença de gregos.

Por volta da década de 1930, porém, povos de terras muito mais distantes, de um outro arquipélago do Pacífico, começaram a chegar a Ilha Grande. Imigrantes de japoneses se instalaram em várias vilas da região, atraídos pelo grande potencial pesqueiro local. A sardinha foi o principal insumo das industrias de beneficiamento de pescado que se espalharam por todo o município, totalizando cerca de 27 empreendimentos. A sardinha salgada era comercializada, sobretudo, para o nordeste brasileiro, em um período em que a geladeira não era um bem comum na casa dos brasileiros. A carne salgada era, portanto, uma técnica de conservação das mais utilizadas. A partir dos anos 1980, o setor entra em declínio e as fábricas fecham, uma a uma. A última a encerrar atividades foi a Kamome, localizada na Praia de Matariz.

No entanto, a sardinha salgada não era o único produto que saiam das fábricas. Antes mesmo da salga, os japoneses produziram o dashico – um peixe defumado e seco utilizado como base para caldos e sopas. A fabricação artesanal demandava  de três a sete dias para a preparação completa. O dashico era destinado às comunidades nipônicas dos estados de São Paulo e Paraná.

Muitos foram os estranhamentos que os japoneses se defrontaram em sua nova vida no Brasil. Além do idioma, a alimentação foi um dos elementos de grande diferença. Por isso,  esses imigrantes passaram a cultivar legumes e verduras que não existiam por aqui e a confeccionar temperos como o shoyu, o misso e o dashico.

Em 2016, a Prefeitura de Angra dos Reis e o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) realizaram o projeto “No tempo do dashico”. Um dos produtos resultantes da iniciativa foi um documentário, que conta a história da presença japonesa na Ilha Grande tendo como fio narrativo a tradicional técnica de fabricação do dashico. Mais informações  podem ser conferidas no website www.dashico.art.br.

Essa saga dos japoneses em Ilha Grande é contada nas vivências dos Outros Caminhos. Inclusive, o dashico de Ilha Grande, atualmente uma rara especiaria, é oferecido na degustação de caldos  em alguns de nossos roteiros. Contate-nos para saber como viver essa experiência.

 

Oficina de fabricação de dashico com dona Tsuruco. / Projeto “No tempo do dashico” / Foto: Leandro Moraes

 

Oficina de fabricação de dashico / Projeto “No tempo do dashico” / Foto: Leandro Moraes

 

Missoshiru com caldo de dashico
Foto: Amanda Hadama